Alguns atributos de Exu
*trecho retirado do livro Exu - O poder organizador do caos, de Norberto Peixoto
Na criação do Universo, o primeiro impulso volitivo divino foi “desdobrar” uma parte de Si, um atributo peculiar: o poder organizador do caos e vacuidade que presidiria tudo e antecederia a criação e as “coisas” a serem criadas. Este “elemento” primordial, imanente e partícipe de tudo que existe é Exu. É o que os iorubanos chamam de a primeira estrela criada (ÌRÀWÒ-ÀKÓDÁ).
Exu traz consigo a neutralidade e a partir dele todos os demais atributos divinos, os Orixás, puderam “soltar-se” do Criador e mergulharam no “corpo de Deus”, um oceano cósmico de fluido vital – prana ou axé –, imergindo nas dimensões vibratórias criadas, num rebaixamento energético e de frequência. Assim, vieram até o mundo manifestado terreno, que esotericamente entendemos como forças da natureza.
Neste sentido, Exu é o dono dos caminhos na mais profunda significação e significados, pois ele é o grande movimento cósmico (mensageiro, mediador e comunicador), permitindo, em conformidade com a volição do Criador, a existência da vida em todas as latitudes universais. No processo criativo divino, contínuo e ininterrupto, espíritos são criados e “jogados” para fora do útero genitor – Deus é pai e mãe –, e Exu impulsiona essas mônadas primevas (centelhas) a mergulharem no oceano da existência que lhes dará, gradativamente, as formas adequadas para que possam existir nas diversas profundidades ou dimensões. São-lhes ofertados corpos espirituais propícios ao meio que habitarão. O próprio Deus lhes presenteia.
Exu, esse desconhecido na Umbanda, é o guardião de todas as encruzilhadas vibratórias, passagens e pontos de encontro que se cruzam, tangenciam e são subjacentes entre si, compondo as diversas faixas de frequência que pairam no universo criado. É como se fosse uma gigantesca e infinita malha cósmica (símile a uma rede de pesca), em que cada nó é mantido coeso pela ação de Exu, que assim permite o trânsito em todos os fios que compõem o Cosmo. Nesses nós, encruzilhadas, os caminhos se cruzam; uns vão, outros vêm, é um ir e vir constante, onde são ofertados os muitos caminhos e possibilidades de trânsito entre o orum – planos espirituais – e o aiye – planetas e seus duplos etéreo-astrais.
A natureza de Exu que se manifesta nas humanas criaturas implica o aprimoramento de qualidades inerentes a ele: ordem, disciplina, organização, paciência, perseverança, bom senso, discernimento, responsabilidade, confiança, justiça e comprometimento, permeados pela alegria de existir, a felicidade. Assim, é lamentável que escutemos referências a Exu sendo ordenado para que “destrua” algo ou alguém, fulano ou sicrano mandado por beltrano, se a sua essência primordial é o equilíbrio de todo o sistema cósmico propiciatório à existência da vida em amplas perspectivas de melhoramento íntimo, polindo o caráter, impulsionando-nos à evolução constante e ao “retorno” aos atributos divinos do Criador, fazendo a ligação com todos os Orixás. Não por acaso, Jesus vaticinou-nos referindo-se à nossa condição de seres imortais: “vós sois deuses”. E arrematou: “podeis fazer o que faço e muito mais”.
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